Olá higienista! No último texto que fizemos falamos sobre a poeira e outros particulados. Discutimos os diferentes tipos de poeira, os seus efeitos no organismo humano e quando esta poderia criar uma atmosfera explosiva.
Neste texto iremos descomplicar a caracterização ou não da poeira total e respirável como insalubre. Vamos explicar passo a passo o processo de caracterização tomando como referência os valores fornecidos pela NR 15 anexo 12. É importante salientar que as informações referentes ao método de medição é fornecido pela NHO – 08 da Fundacentro, e esta não é alvo deste estudo. Os laboratórios escolhidos para a análise das amostras seguem metodologias da NIOSH – National Institute for Occupacional Safety and Health, que também não são alvos deste texto.
Continue lendo se quiser aprender mais sobre:
- Qual a diferença entre poeira total e poeira respirável;
- Quais são os equipamentos utilizados na medição;
- Qual o local de colocação do equipamento no trabalhador?
- Qual é o passo a passo do processo;
- Quando a poeira total ou a poeira respirável são consideradas como insalubre?
Qual a diferença entre poeira total e poeira respirável?
Ambas são poeiras minerais contendo sílica cristalizada.
Poeira respirável é aquela que possui diâmetro pequeno o suficiente para que uma porcentagem (%) definida passe por um seletor, ou separador de partículas, também conhecido como ciclone. Ao observarmos o quadro 1 abaixo, retirado da NR15 anexo 12, observamos que partículas menores que 10 µm são definidas como respiráveis.
Poeira total é aquela captada pela bomba de amostragem sem a utilização do ciclone, ou seja, sem o separador de partículas. É possível afirmar que a poeira total é menos danosa que a poeira respirável, devido ao tamanho da partícula.
Quais são os equipamentos utilizados na medição;
Os equipamentos necessários para a avaliação ocupacional de poeira total e poeira respirável são:
Poeira Total
- Bomba de amostragem
Refere-se à bomba gravimétrica. Segundo a Fundacentro (2009), a bomba deve possuir uma vazão de até 6 litros por minuto, possuir bateria recarregável e ser blindada contra explosão. O controle da vazão deve ser constante, e não se pode admitir uma diferença entre a vazão inicial e a final maior que 5%.
A bomba gravimétrica deve ser calibrada antes da sua utilização e após, utilizado para tanto o método da bolha de sabão descrito na NHO 07. Atualmente existem métodos mais modernos de calibração, como medidores vazão eletrônicos digitais, que fornecem a vazão da bomba diretamente no display do equipamento.
- Filtro e porta-filtro
O filtro utilizado na coleta de poeira é uma membrana de PVC, 5µm de porosidade e 37 mm de diâmetro.
Ele é montado dentro de um cassete (porta filtro), que deve ser sempre vedado para evitar contaminação.
Poeira Respirável
- Ciclone (Separador de partículas)
Neste caso, como queremos as partículas menores, é necessário a utilização de um separador de partículas, também chamado de ciclone. Ele seleciona as partículas de acordo com suas dimensões.
Qual o local de colocação do equipamento no trabalhador?
A bomba gravimétrica deve ser colocada na cintura do trabalhador de maneira a não interferir nas suas atividades diárias, e o cassete (porta filtro) deve ser colocado na altura do aparelho respiratório do usuário. Abaixo, segue modelo de utilização fornecido pelo Fundacentro:
Qual é o passo a passo do processo.
1 – Após definição do GHE – Grupo Homogênio de exposição (Não iremos falar sobre isto neste texto) e definição do tipo de particulado que será medido é necessário calibrar a bomba de amostragem e montar o sistema de coleta acoplando-a ao dispositivo de coleta por meio de uma mangueira apropriada.
2 – Instala-se o sistema de coleta no trabalhador, conforme já explicado, ou mesmo em um tripé, caso precise quantificar o agente em um determinado local, e não necessariamente a exposição ocupacional dos colaboradores.
3 – Verificar se existe alguma obstrução na passagem de ar do dispositivo de coleta e, caso não haja, ligar a bomba (já devidamente calibrada quanto à vazão).
4 – Anotar a data de coleta, assim como o horário, código do filtro, número da bomba de amostragem e outros dados considerados importantes, conforme modelo da NHO 8 Anexo G.
5 – Acompanhar e observar o processo e as atividades desempenhadas.
6 – Após finalizar o período de coleta, desligar a bomba e anotar o horário de término.
7 – De forma cuidadosamente, desconectar os sistema, removendo o dispositivo de coleta de forma a não balançar o conteúdo existente (poeira) para que não haja a invalidação da medição.
8 – Armazenar o porta-filtro com a face voltada para cima em caixa apropriada para transporte, de acordo com a imagem abaixo.
9 – Verificar a vazão da bomba gravimétrica. Caso a variação de vazão (inicial – final) tenha sido maior que 5%, deve-se realizar nova medição.
Quando a poeira total ou a poeira respirável são consideradas como insalubre?
Após realizar a medição conforme explicado, enviar os cassetes para o laboratório e receber as informações do mesmo sobre o agente aferido, deve-se realizar os cálculos abaixo.
Para ilustrarmos melhor, consideraremos as seguintes informações:
- Vazão: 1,7 l/min
- Tempo de medição: 400 min
- O laboratório lhe forneceu a seguinte quantidade de % quartzo (SiO2): 3,0
- O laboratório lhe forneceu o seguinte peso da amostra: 0,5 mg.
Cálculo do volume de ar amostrado
O volume de ar é dado pela seguinte fórmula:
V= (Qm x t) / 1000
Onde:
V: Volume amostrado.
Qm: Vazão média em L/min
t: tempo total de coleta.
Logo, considerando nosso exemplo:
V= (1,7 l/min x 400 min)/1000
V= 0,68 m3
Cálculo da concentração da amostra
A concentração do material particulado no ar é feito através da seguinte expressão:
C= m/V
Onde:
C: Concentração da amostra em mg/m3
m: Massa da amostra em mg fornecida pelo laboratório
V: Volume de ar amostrado em m3
Logo, considerando nosso exemplo:
C= 0,5 mg/0,68 m3
C= 0,73 mg/m³
Cálculo do Limite de tolerância
Como vimos, não há limite de tolerância para a exposição à poeira total e respirável definida, assim, o LT é dado de acordo com a concentração de quartzo na amostra:
- LT Poeira Total
LT = 24 / (%quartzo + 3) (mg/m³)
Em nosso exemplo:
LT= 24 / (3+3)
LT = 4 mg/m³
Logo, a concentração máxima de poeira total poderia ser de até 4mg/m³. Como, na nossa amostra, encontramos 0,73mg/m³, a exposição a poeira total não é caracterizada como insalubre. Nem mesmo o nível de ação (mencionado pela NR 9 como sendo a metade do limite de tolerância para agentes químicos) foi alcançado, sendo assim, a utilização de proteção respiratória neste exemplo é desnecessária.
- LT Poeira Respirável
LT-8 / (%quartzo + 2) (mg/m³)
Em nosso exemplo:
LT = 8 / (3+2)
LT = 1,6 mg/m³
A concentração de poeira respirável poderia ser de até 1,6 mg/m³. Em nosso exemplo, por encontrarmos 0,73 mg/m³, não existe caracterização de insalubridade.
Para avaliarmos a concentração da poeira total e respirável também poderíamos utilizar o índice de concentração:
I = C/LT
Onde:
I: Índice de concentração
C: Concentração da amostra (mg/m³)
LT: Limite de tolerância calculado (mg/m³)
Vamos exemplificar utilizando os valores de poeira respirável que encontramos:
I = 0,73/1,6
I=0,45 = 45%.
Se o valor fosse maior que 100%, isso indicaria que o limite de tolerância da amostra foi ultrapassado. Caso fosse maior que 50%, o nível de ação teria sido alcançado.
Conclusão
É de extrema importância a correta aferição da concentração de material particulado no ar, como no nosso exemplo, onde trabalhamos com poeira total e respirável. Deve-se também seguir as informações contidas na NHO 07 que trata sobre a calibração da bomba de amostragem pelo método da bolha de sabão.
No próximo texto iremos falar sobre a quantificação de outros agentes particulados com limite de tolerância definidos pela NR 15 e particulados com limite de tolerância definidos pela ACGIH.
Referências:
Fundacentro. NHO 7 -Calibração de Bombas de Amostragem Individual pelo Método da Bolha de Sabão. 2002.
Fundacentro. NHO 8 – Coleta de Material Particulado Sólido Suspenso no Ar de Ambientes de Trabalho. 2009.
SALIBA, tuffi messias. Manual prático de avaliação e controle de poeira e outros particulados. 8ª edição. 2016.