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A modernização das NRs e o Platô da Segurança do Trabalho

A modernização das NRs e o Platô da Segurança do Trabalho

Em tempos onde só se fala em modernização das normas regulamentadoras, é fácil encontrar inúmeras inverdades que circulam pelas redes sociais, e que fazem com que os profissionais de segurança se sintam inseguros quanto ao futuro das profissões que escolheram: Retirada de obrigações por parte do empregador, desobrigação da elaboração de programas de segurança, extinção do anexo II da NR 4, e outras informações que são divulgadas no calor das emoções.

Entretanto, embora estejamos no meio do processo de transformação da legislação trabalhista no Brasil e da indústria, que caminha para o que é chamado de 4.0, não devemos nos esquecer de que a maior causa de acidentes na indústria do trabalho como um todo, é o homem e seu comportamento.

Vamos observar a figura abaixo, nela, podemos encontrar um gráfico, que nos mostra a proporção de acidentes do trabalho durante o tempo, e a relação destes com as 3 fases de evolução: Tecnologia, Sistemas e Cultura.

Modernização das Normas Regulamentadoras
Fonte: Hudson (2007)

É importante salientar que esse gráfico não tem por objetivo nos mostrar uma avaliação quantitativa, e sim uma avaliação qualitativa quanto aos eventos que ocorreram ao longo dos anos, o que nos permite realizar uma análise mais eficaz, nos permitindo realizar um paralelo com o que estamos vivenciamos hoje com relação à modernização das normas regulamentadoras.

Na primeira etapa mostrada no gráfico, temos um alto índice de incidente; não haviam métodos de proteção aos trabalhadores, e devido a isto, os trabalhadores ficavam expostos aos perigos de forma direta, não havendo nenhuma barreira que impedisse que com que o sinistro pudesse ocorrer, salvo a perícia do funcionário. Era o início da revolução industrial, quando as indústrias começavam a se desenvolver numa velocidade muito mais rápida do que vinham até então. Nesta etapa, eram comuns ocorrem lesões gravíssimas e óbitos quase diários, uma vez que havia uma grande quantidade de mão de obra disponível que migrava dos campos para as cidades.

Em um determinado momento, os grandes empresários perceberam que perdiam muito tempo no processo de substituição de um funcionário lesionado, pois, era necessário treinar um novo para realizar as atividades. Para solucionar esse problema, aperfeiçoou-se a tecnologia aplicada nas máquinas e equipamentos: desenvolvendo proteções das partes móveis expostas, buscando a conformidade dos processos e adotando-se de técnicas mais eficazes de engenharia. Todas estas ações fizeram com que os índices de eventos diminuíssem. Estávamos na era da reatividade, que era quando algo ocorria, os stakeholders se movimentavam para corrigir.

Embora houvesse menores índices de acidente, estes ainda se mantinham altos. Como forma de melhorar este cenário, deu-se inicio à fase dos Sistemas, que tinham por foco, avaliar os riscos das atividades antes de realizá-las, buscar integrar os processos de segurança, saúde e meio ambiente, identificar os perigos e quantificar o riscos e adotar a medida de controle mais adequada.

Houve uma queda número de incidentes. Mas ainda assim, havia um alto número de eventos que manchavam a imagem das organizações e oneravam os cofres públicos e privados, já que era necessário prover e manter financeiramente o profissional incapaz de produzir devido a sequelas ocorridas por acidentes do Trabalho e que acabavam com famílias inteiras, através da perda laboral daqueles que eram os seus arrimos.

Para quê houvesse uma melhora neste quadro, foi necessário implementar processos ainda mais eficazes, que tinham como foco não somente as normas, procedimentos internos, máquinas, equipamentos ou outros recursos: foi necessário olhar para o homem e o seu comportamento Auto sabotador.

Note que no último estágio, a quantidade de acidentes esta próximo do eixo horizontal, nos menores níveis já encontrados. No entanto mesmo nesta fase, a da proatividade e mesmo com todas as tecnologias disponíveis aplicadas ao meio industrial, não foi possível zerar o número de acidentes. Existe um platô, e os eventos não param de acontecer embora tenham diminuído.

O que faz com que acidentes continuem acontecendo, é a presença do homem no processo. Embora haja procedimentos, treinamentos, automação, proteções de todos os tipos, nada impede o homem de bypassar todas as barreiras e sofrer um acidente, nada impede o homem de não aplicar ou não seguir um processo comprovadamente seguro, porém mais longo, em detrimento de um atalho; nada impede o homem de remover a proteção do equipamento quando não tem ninguém vendo.

É fato que houve uma melhora muito grande na forma como a segurança é aplicada nas empresas, entretanto, não há meios de impedir com que ocorram incidentes se os profissionais agem deliberadamente contra os métodos de controle. O desafio não é simplesmente implementar normas, leis e procedimentos e sim convencer o trabalhador de que ele é o responsável pela própria segurança. Se você não fizer isto acontecer, responsabilizar a modernização das normas regulamentadoras (NRs) pelo alto número de acidentes na sua empresa, é somente uma desculpa.

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